segunda-feira, 19 de maio de 2008

Vergonha de ser bom

Hollywood sempre resumiu a vivência humana à realidade ficcionada da divisão entre o Bem e o Mal. Não que fosse preciso esperar tanto tempo para tomar contacto com tamanha evidência mundana, pois a nossa história remonta a séculos de disputa entre puros e malvados.
Ambas as facetas foram tomando proporções diferentes não tanto pela essência falível da carne, mas sobretudo, pelos meios à disposição do utilizador. Estes instrumentos de tortura ou de bem feitorias têm traduzido efeitos cada vez mais elaborados, por vezes até, com um requinte confrangedor, tal é a nitidez com que espelham no espaço fisico a capacidade da mente humana.
É impressionante como voa cada vez mais alto, a capacidade do ser humano fazer o bem, prova são as respostas encontradas ao nível da medicina que ajudaram a erradicar muitas doenças do espectro tangível da urbanidade, mas por outro lado, também a capacidade de infringir o mal nos outros tem crescido de sobre maneira, chegando ao ponto de se elaborarem gases mortíferos para aniquilar milhares e milhares de homens, mulheres e crianças, ou estar esta matança, apenas à distância de um clic que acciona um projéctil a muitos kms de distância.
O que me causa estranheza é o facto da ficção emanada da terra do cinema ser contextualizada e justificada pela sociedade que temos e que todos vamos construindo. A triste realidade é existirem mesmo, indivíduos que se alimentam do mal e daí retirarem o seu sustento e sobrevivência. Ao que parece existem mesmo pessoas que obtêm um prazer ignóbil do infortúnio dos outros e, no caso de o azar não acompanhar a vida do próximo, eles próprios se oferecem sem hesitação para providenciar as maravilhas da maldade às vidas alheias.
Tenho vindo a reparar na escassez de gestos e manifestações puras de afecto que as gentes trocam entre si, em comparação com a facilidade com que se fazem acusações, espalham intrigas e apresentam olhares envenenados. Chego a pensar se haverá pelas terras do demo, um prémio especial para quem mais vidas derrubar, como se de um jogo da batalha naval se tratasse. Ou se estará a prática do bem completamente fora de moda.
Parece existir um sentimento envergonhado quando se pretende fazer o bem, talvez por ser cada vez menos usual tal gesto as pessoas tenham interiorizado que o bem deva estar escondido e ser apenas praticado na clandestinidade de um mundo que agora pertence à batuta do mal.
Se assim for, então, todos devemos perder a vergonha! Temos de sair à rua sem medo e em coro gritar a uma só voz: eu não tenho vergonha de ser bom! Eu quero ser um cidadão melhor a cada dia que passa! Mas também, há que construir. Não basta dizer que somos melhores. É preciso fazer coisas que nos façam crescer enquanto homens. É necessário sair do campo rasteiro onde se movem os maus, sair ileso da imundice onde se banham os pobres de espírito, para depois voltar e ajudá-los a não avaliar os outros sob os seus frouxos pressupostos, para que entendam que pode existir um Mundo melhor além, daquele que eles reflectem no espelho das suas latrinas.
Para isso, basta que todos sejamos melhores e pratiquemos o bem, aspirando apenas a viver em paz com as nossas consciências e receber em dobro aquilo que damos aos outros.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Liberdade

Foram dias foram anos a esperar por um só dia.

Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía

com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia

na esperança de um só dia.


Manuel Alegre

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Antoine de Saint Exupéry












Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si. Levam um pouco de nós.

domingo, 20 de abril de 2008

São Francisco de Assis


Ajuda-me a suportar o que não posso compreender.

Ajuda-me a mudar o que não posso suportar.

terça-feira, 15 de abril de 2008

"Empresas Que Faltam em Portugal?" *

Que mais faltará a um povo que não tem a oportunidade de se instruir e ser saudável? Não serão estes os pilares de uma nação? A Educação é o espelho de um país. É a formação que nos fornece os melhores profissionais nas diversas áreas. É o bem-estar que faz as pessoas activas. É a cultura que deixamos aos outros que nos prolonga na história.Por isso, desta missão não se pode o serviço público demitir. É o estado que tem de garantir as mesmas oportunidades para todos, mais não seja, nestas matérias.O que faz falta a muitos portugueses é ter acesso a um bom ensino e a um sistema de saúde eficaz.


PP



* pergunta de lançamento de um fórum

domingo, 13 de abril de 2008

Palavras ao Vento










Frio Quente Ardente
Água Sol Anzol
Brisa Lento Vento
Ai Paixão que não Aguento!

Gente Música Dentro
Onda Força Depressa
Toca Seca Areia
Na Paz que a Rodeia!

Farol Minha Luz
Calor Corrente Sente
Esperança Terra Tua
Suor, de Amor Ardente!

PP

sexta-feira, 11 de abril de 2008

"Quem me dera ser português"


Ao contrário dos nossos governantes vivo preocupado com o futuro. Sou por natureza um individuo optimista, mas aflige-me pensar no que se está a transformar o meu país e o que mais irá fazer dele esta gente que nos (des)governa a quem apelidam de representantes do povo.
Ainda assim, há poucos dias em conversa com um jovem Moçambicano, fiquei a saber que existe alguém que inveja os portugueses. É verdade, também eu, pensei na incongruência desta possibilidade, mas aquele jovem, encheu o meu ego quando me disse "quem me dera ser português". Embora inchado de orgulho não consegui encontrar os motivos e perguntei-lhe os porquês. Ele explicou-me:
- Vocês vão fazer mais uma grande ponte na mesma cidade, eu, estou farto de perder amigos que tentam atravessar 0 rio a nado, acabando devorados pelos crocodilos porque não temos outra forma de o fazer;
- Vocês vão ter um comboio de alta velocidade para percorrer um país muito mais pequeno que o nosso, eu, para ir trabalhar na oficina do meu tio tenho de apanhar uma camioneta sem vidros, todos os dias às 5.00 horas da manhã e percorrer um trajecto de terra cheia de buracos durante 2h30m;
- Vocês vão ter um novo aeroporto, pois este que têm já não chega. Devem todos viajar muito, eu, nunca saí do meu país e sonho um dia conseguir andar de avião.
Depois de ouvir o rapaz e, mesmo com aquele ar com que ficam os portugueses quando os estrangeiros falam bem do nosso país, não fui capaz de ficar calado. Preferi deixar os orgulhos bacocos de lado e tentei explicar-lhe que está um pouco enganado relativamente ao nível de vida dos portugueses. Na verdade, somos um povo muito preocupado em mostrar empreendorismo (ou novo riquismo) mesmo que para lá dessa fachada os buracos sejam os mesmos de Moçambique. Então, procurei passar-lhe uma imagem mais realista dizendo-lhe:
- Nós vamos fazer uma ponte num rio sem crocodilos e onde, para além, de duas pontes uma delas com comboio, existem barcos que passam as pessoas de uma margem para a outra, por isso, não vamos morrer devorados por tais animais, mas vamos ter a cruz de alimentar a vida toda outros tubarões de uma lusoponte qualquer com o pagamento da portagem (mais uma);
- Nós vamos ter um comboio muito rápido, é verdade só que, embora nos vá custar o dobro ou o triplo do bilhete do Alfa vai chegar lá ao mesmo tempo, porque tal como nos estádios do Euro, os presidentes das câmaras de Coimbra, Leiria, Santarém, Aveiro..., todos querem uma estação do TGV. Há que satisfazer toda esta gente, nem que seja à custa de um comboio cheio de aerodinâmica, mas que no meu país fará o mesmo que fazem os comboios que já temos;
- Nós vamos ter um novo aeroporto, mas cada vez menos portugueses vão pder viajar pois o preço dos combustíveis vai aumentar tanto que as companhias aéreas terão de encarecer de tal maneira o preço dos bilhetes que só os mais ricos e os políticos com passagens pagas por nós, vão conseguir continuar a viajar.
Por ultimo, disse-lhe que em Portugal os governantes são levados ao colo pelos empresários das construtoras e pelos administradores dos bancos e depois são obrigados a fazer estas obras para esses ganharem o dinheirinho e mandar para as offshores. No fim das obras feitas, é o estado que tem de gerir estes elefantes brancos com os dinheiros públicos, mas isso não interessa nada.
Disse-lhe então para resumir, que quando essas obras tiverem concluídas apenas 10% dos portugueses as vai utilizar pois os outros 90% já terão morrido de fome, ou para lá caminham e não terão forças para viajar.
Depois de me ouvir, o rapaz rematou uma observação que me deixou perplexo...:
- Pois isso eu sei. Sei que vocês gostam de mostrar que são ricos, fazer grandes obras para meia dúzia de pessoas utilizar, mas aí é que está! Se eu fosse português poderia usar isso tudo porque estou tão habituado a passar fome que conseguiria facilmente resistir, juntar-me aos poucos sobreviventes e ficar com a melhor parte!
Realmente, será justo continuar a investir milhões para dar ainda mais aos que menos precisam? Será honesto gastar o dinheiro de todos em obras para servir só alguns? Será humano continuar a ver gente como nós sobreviver sem o mínimo de dignidade e assobiar para o ar?
Num tempo em que o FMI vem alertar os governos para a situação de pobreza extrema em que se encontram milhões de pessoas, os alimentos estão cada vez menos acessíveis, os juros da casa não param de subir e os desempregados cada vez são mais...nós aqui, fazemos grandes obras para alimentar a minoria dos cada vez mais ricos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ser Mãe








Ser mãe é desdobrar fibra

por fibra
o coração! Ser mãe é ter
no alheio
lábio que suga, o
pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor,
cantado, vibra.

Ser mãe é ser um anjo
que se libra
sobre um lenço
dormindo! É ser anseio,
é ser teneridade, é ser
receio,
é ser força que os males
equilibra!

Todo o bem que a mãe
goza é bem do filho,
espelho em que se mira
a afortunada,
luz que lhe põe nos olhos
novo brilho!
Ser mãe é andar
chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo
e não ter nada!
Ser mãe é padecer num
paraíso!

Coelho Neto

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Os silêncios


São os silêncios que fazem verdadeiras conversas entre amigos.

O que conta não é o que é dito, mas o que nunca é necessário dizer.

Margareth Lee

segunda-feira, 31 de março de 2008

"O que pensa começa no que ouve"

Há dias fui surpreendido por um slogan da Rádio Clube Português num anúncio de jornal à dita estação: "O que pensa começa no que ouve", o slogan é sem duvida original e sugestivo, mas deixou-me muito preocupado. Sim, é verdade! Fiquei breves minutos a pensar nas coisas que ouço todos os dias e, isso, não se traduziu numa reflexão tranquilizadora. Ao contrário, dei por mim a ouvir vozes. Vozes como essas que todos os dias nos dizem um monte de coisas, tudo com muita rapidez, mas com muito pouca lucidez. Deixo-vos aqui alguns exemplos, para melhor, perceberem como me sinto sempre que as ouço:
. Dizem que nunca farão um aeroporto num determinado sitio (e depois fazem);
. Prometem-nos um campeonato de futebol competitivo (e desde a 2ª jornada que temos o F.C. do Porto isolado no 1º lugar, para antes do Natal já levar uma dúzia de pontos de avanço do mais directo perseguidor);
. Afirmam que a criminalidade violenta baixou nos últimos tempos (e na mesma semana duas pessoas são mortas a tiro em espaço de horas, mais um homem mata a mulher e os filhos e mais um filho mata os pais dentro da própria casa);
. Dizem-nos que vão criar rapidamente para cima de um milhar de empregos (e o desemprego aumenta dois pontos percentuais);
. Avisam-nos que em 2008 não haverá qualquer hipótese de se baixarem os impostos (até aqui nada de novo, estamos em crise...Mas, a vontade, o prazer e o requinte na mentira já não dão para disfarçar, ou melhor, é impossível ter uma área onde não ousem contar a mentirinha da praxe, então o que fazem? Baixam o IVA 1%! Para quê? perguntam vocês, claro! Pois isso em nada se reflecte, mas é a mentira que faltava. Começo a acreditar que estes que nos falam, já não conseguem passar sem mentir, só pode ser!)
A minha angustia vem da incerteza: será que vou mesmo pensar o que ouço? Será que um dia estarei também a dizer todas estas mentiras? Ou terei de passar o resto da vida com as mãos por cima dos ouvidos para não ouvir tudo o que se diz por aí?
Pensando bem, apenas vale a pena ouvir o que nos dizem: os nossos pais, porque nos querem bem; alguns bons amigos porque gostam de nós como somos e, parte do que dizem as nossas mulheres porque são nossas mulheres. Pouco, muito pouco mais devemos registar sem fazer ouvidos moucos.
Pelo exposto, vos digo caros compatriotas da Rádio Clube, a publicidade é original, chega a roçar o charme, mas não me peçam para pensar o que ouço, pois se assim fosse, já estaria emigrado num outro país com uma língua bem esquisita para, pelo menos, não perceber se também me estivessem a mentir!

domingo, 30 de março de 2008

Filha

Não Sabia que tinha duas vidas
Uma antes, outra, depois de ti
O teu sorriso solta-me a lágrima
O teu choro desespera a minha alma
Como foi possível viver sem ti?

És a força dos meus dias
Como te vejo tão bela
Os teus olhos dizem-me tantas coisas
És o melhor que me aconteceu
Ensinas-me todas as coisas
Ao pé de ti, a criança sou eu

Só tu me fazes verdadeiro
Contigo a vida é um encanto
Só tu me conheces por inteiro
Longe de ti choro e não canto.

PP

À (minha) Mulher

Companheira, amiga, mulher
Mãe, mãe duas vezes
No corpo, na obra, no saber
Em tudo que tocas, em tudo que dizes

És o amor, o carinho, a atenção
Tu carregaste a felicidade nove meses
Tu me enches a alma de paixão
És a melhor todas as vezes

Tanta força, tanta angústia, tanto brio
Que canseira, tanta coisa que tu fazes
Tens mais vida que as águas de um rio
Só te peço, por favor, não me largues!

Sem ti, a vida não é bela
Só contigo posso encontrar o caminho
Quero-te sempre na minha janela
Quero ser o macho do teu ninho

Foram dias, horas, poucos minutos
Foi preciso apenas te conhecer
Para jamais desejar outros momentos
Para além, daqueles de te ter.

PP

sexta-feira, 28 de março de 2008

As Portuguesas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos

A Associação Portuguesa Mulheres e Desporto (APMD) organiza o Forum As Atletas Portuguesas e os Jogos Olímpicos, que decorrerá no próximo dia 29 de Março, na sede do Comité Olímpico de Portugal, conforme programa anexo.
Escolhemos este mês de Março para celebrar as portuguesas que participaram nas últimas 15 Olimpíadas (1952-2004) e também aquelas que dentro de alguns meses irão integrar as comitivas portuguesas, olímpica e paralímpica, aos Jogos de Pequim.
Com a realização deste Forum, também pretendemos contribuir para o debate e divulgação das questões associadas à igualdade de género no desporto.
Gostaríamos de contar com a sua presença para nos acompanhar nesta celebração.
Até breve
Associação Portuguesa Mulheres e Desporto
http://www.mulheresdesporto.org.pt/


AS PORTUGUESAS NOS JOGOS
OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS

10.15h Sessão de Abertura
Elza Pais. Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
José Vicente de Moura. Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
Paula Botelho Gomes. Presidente da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto.

10.30h 1º Painel
Maria Celeste Gil. Vogal da Comissão Executiva do Comité Olímpico de Portugal.
Fe Robles. Directora da Comissão Mulher e Desporto. Comité Olímpico Espanhol.
Moderadora: Isabel Cruz.

11.30h 2º Painel
Esbela da Fonseca. Atleta e juíza olímpica (Ginástica Artística).
Sílvia Cruz. Atleta apurada para Pequim (Atletismo).
Fernando Mota. Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo.
Moderadora: Paula Silva.

12.30 Almoço

14.30h 3º Painel
Cristina Matos Almeida. Socióloga, Instituto do Desporto de Portugal.
Salomé Marivoet. Socióloga, Conselho Nacional do Desporto.
Miguel Tiago Crispim. Vice-Presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência.
Moderador: José Manuel Constantino.

16.00h 4º Painel
Susana Feitor. Atleta olímpica (Atletismo).
Leila Marques. Atleta paralímpica (Natação).
Filipa Cavalleri. Atleta olímpica (Judo).
Venceslau Fernandes. Pai da atleta olímpica Vanessa Fernandes (Triatlo).
Moderadora: Maria José Carvalho.

17.30h Sessão de Encerramento
Jorge Lacão. Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
Manuel José Marques da Silva. Vice Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
Humberto Fernando dos Santos. Presidente da Federação P. de Desporto para Deficientes.
Susana Feitor. Vice Presidente da Comissão de Atletas Olímpicos.
Paula Botelho Gomes. Presidente da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto.

LISBOA, 29 DE MARÇO DE 2008. SEDE DO COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL

quinta-feira, 27 de março de 2008

No Fórum






A República Romana, um espelho da civilização ocidental.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Não-Sociedade

Estamos nos famosos tempos modernos e chegámos finalmente a um beco sem saída, quem diria?! Somos a única espécie capaz de raciocinar, salvo não muito raras excepções; fomos inteligentes ao ponto de chegar à lua e, estamos agora à beira da ruptura social.
Chamo a tudo isto que gira à nossa volta e nos enrola num turbilhão de maleficências e egoísmos a Não-Sociedade, onde quem se apresenta com veículos de alta cilindrada, roupas e acessórios de marca (cara) é automaticamente reconhecido como grande personalidade, não sei de quê, mesmo que toda essa ostentação advenha de negociatas de saco azul ou tráfico de vários ilícitos.
Ao contrário, quem utiliza a precária (mas cara) rede de transportes públicos ou possui "carros sem peneiras" não passa - aos olhos dos "juízes sociais" - de escumalha e gente pobre. Conheço muita gente deste calibre! Gente que utiliza os atrasados e mal cheirosos comboios, Gente que se arrisca por entre a sujidade e os rios de urina nas estações de metro, Gente que manhã cedo se equilibra nos autocarros à pinha; trabalhadores incansáveis que desesperam pelo final do mês para voltar a respirar o efémero balão de oxigénio.
Estas pessoas e outras que tais, não contam para a Não-Sociedade, ela tem outros exemplos a seguir: ministros caídos do céu, políticos foragidos da lei, riquezas incalculáveis fruto do malabarismo dos impostos, lugares de chefia para os amigos, crimes que só não se comprovam nos tribunais, medidas inovadoras: comprar submarinos com o dinheiro dos hospitais, construir novos aeroportos com o dinheiro das escolas...
Não compreendo esta coisa que aqui decidi chamar de não-sociedade. Porque não respeitamos as palavras que inventámos? A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação amistosa com outros". Societas deriva de socius, que significa "companheiro", ora, companheirismo é tudo o que menos existe à nossa volta, neste ambiente onde reina o individualismo e a lei do salve-se quem puder, será isso ser amigo e companheiro?
Não! Sociedade significa ter a mesma lei para todos, respeitar qualquer um independentemente da raça, da origem, da cor, da idade, da orientação sexual, do género, da condição social, da religião...É possuirmos todos os mesmos direitos, é termos todos as mesmas oportunidades, é preservarmos o nosso planeta e termos consciência que não seremos os últimos a andar por cá. Nem isso nós conseguimos fazer! Mesmo sabendo que os próximos serão os nossos netos e bisnetos. Tenho vergonha desta sociedade de guerrilha que lhes deixo, sinto-me um cobarde pelos recursos e alternativas que não lhes apresento!
Ainda assim, continuo a acreditar talvez utopicamente, nas definições de sociedade que aprendi na escola. É horrível pensar ao nosso lado bem pertinho existem criaturas iguais a nós, feitas da mesma matéria que vivem no limiar da dignidade humana. Temos de fazer alguma coisa para modificar esta não-sociedade que construimos, mas para que isso seja possível meus amigos, está na hora de darmos todos um bocadinho mais de nós. Se calhar, para ser um mais fácil dar sem estar à espera de receber em primeiro lugar, devemos pensar que ainda somos realmente uns privilegiados cheios de sorte, pois no lugar daquele que nos pede uma esmola hoje, bem que podemos estar nós amanhã!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Com muita tranquilidade

Pois é, assim se passou mais uma Páscoa, com muito frio, mas com a tranquilidade que se espera desta época de celebração cristã. Desta vez, para além, do frio também houve bola. Tivemos a tão aguardada final da taça da liga que acabou por decorrer de forma normal com uma vitória tranquila do Vitória de Setúbal.
É sobre este novo estado de alma dos portugueses que vos quero falar, na verdade, também gostaria de tecer alguns comentários relativamente ao criador desta nova corrente ideológica que de repente nos contagiou a todos e nos trás embalados numa tranquilidade inabalável.
Refiro-me a Paulo Bento, treinador do Sporting Clube de Portugal, este Homem tem-nos ensinado muito, de facto, antes dele tudo era diferente. Não! Não estou a falar do seu estupendo corte de cabelo, sem dúvida fashion, qual Beatriz Costa! Estou mesmo a pensar na forma como os portugueses, em particular os sportinguistas, passaram a abordar o seu quotidiano, em que tudo é encarado sob uma perspectiva muito tranquila.
Senão vejamos, o Sporting está à beira do 6º lugar no campeonato e o que acontece? nada, é normal; O Sporting não joga futebol e o que temos? Nada, tudo é tranquilidade; O treinador do Sporting diz que vai meter o seu nome na taça e levá-la para sua casa, vêm os jogadores do Vitória levam-lhe o troféu para Setúbal e, quando qualquer outro faria uma birra e tentaria por todos os meio ficar com ela, o Paulo Bento, nem reage e deixa o Carvalhal fazer a festa.
Nunca vi nada parecido! Este Homem mesmo com os resultados que obtém está sempre tranquilo, mantém tudo como está, até o penteado - que qualquer outra pessoa já teria desfeito com um ataque de nervos de levar as mãos ao pêlo em atitude desesperada - ele consegue manter intacto.
Mas esta forma de estar é tão relevante que começa a extravasar para outras classes da nossa sociedade, veja-se por exemplo: o preço dos combustíveis a aumentar dia para dia, mas as filas de trânsito todas as manhãs continuam; os professores manifestam-se em peso contra as avaliações, mas a ministra mantém uma tranquilidade absoluta, até George W. Bush já se rendeu à cultura Zen do pacifista Paulo Bento, o numero de soldados mortos no Iraque ascende os 4000...tudo tranquilo, a guerra continua!
Por tudo isto, resta-me agradecer. Obrigado Paulo Bento! Por tudo que nos tens ensinado e transmitido, desde que aderi ao teu movimento estou muito mais sensato. Nem sequer reagi, quando vi uma velhinha ser arrastada mais de 150 m pela estrada fora, puxada por um carteirista em cima de uma moto. Fiquei calmo e toda a rua ficou como eu, tranquila. Se fosse há um tempo atrás eu e todos os que presenciamos tal cena, teríamos tentado apanhar o sacana e recuperar o dinheiro da reforma da senhora, nem que fosse à paulada. Mas, tal como nos ensinaste, são situações normais e temos que continuar, mantendo a tranquilidade!



sábado, 22 de março de 2008

Açorda do Primo Álvaro

Ingredientes:

.500 g de camarão
.250 g de berbigão
.250 g ameijoa
.250 g delicias do mar
.250 g de lagosta
.500 g de pão alentejano
.10 dentes de alho
. 4 ovos
.azeite e sal q.b.
. pimenta
. piripiri angolano (opcional)

O primo Álvaro veio cá a casa e fez-nos o jantar, não é lindo? Convidamos o pessoal para trabalhar numa bela tarde de bricolage e ainda nos fazem a paparoca! Bom, certo é que após montagens e desmontagens, mais prego menos parafuso, em cerca de meia hora mais coisa menos coisa, o nosso Gourmet deixou-nos completamente rendidos a tão maravilhosa iguaria. Os ingredientes que se sugerem aqui, podem variar em função do gosto e do que se tiver em casa. O mesmo se aplica às quantidades, pois o verdadeiro especialista na cozinha faz tudo a olho e foi difícil traduzir o feeling do artista em gramas.

Em primeiro lugar, cozem-se os mariscos com 3 ou 4 pitadas de sal em águas separadas ou numa só, o mais importante é guardá-la para amolecer o pão. O marisco pode ser o que se gostar e as quantidades conforme se preferir mais o sabor de um em detrimento de outro. Depois de estar bem amolecido pela água do marisco, desfaz-se o pãozinho alentejano com as mão até ficar uma papa e coloca-se num escorredor para retirar o excesso de água.

Prepara-se uma frigideira grande antiaderente com o azeite q.b, depois de bem quente juntam-se os dentes de alho picadinhos e deixa-se alourar. Acrescentamos os mariscos apenas alguns minutos, num lume médio para não colar. Depois de entalar os mariscos, juntamos o pão já escorrido a fritar um bocadinho, tendo sempre o cuidado de ir mexendo para que a açorda fique com uma consistência uniforme, com o marisco bem distribuído. Nesta altura, poderá juntar um pouco de piripiri Angolano a gosto (cuidado).

A açorda está quase pronta, só falta juntar o ramo de coentros frescos cortadinho com a ajuda de uma tesoura. Mexe-se mais um pouco para distribuir as verduras e, 2 a 3 minutos mais tarde, em função da consistência desejada, apaga-se o lume e junta-se um ovo por pessoa inteiro ou só a gema e uma pitada de sal por cada ovo.

Desfazem-se os ovos na açorda mexendo energicamente com utensílios de madeira e, já está! Sirva rapidamente! A açorda fria perde a piada toda. Garanto que fica uma delicia!
Sugestão:
Acompanhe com um vinho branco alentejano bem fresco e evite fazer a açorda para o jantar. Ela é realmente boa, certamente terá vontade de repetir e poderá ter de fazer uns passeios pelo corredor antes de adormecer!

Veneno

Tu sabes, não sabes
Só eu sei!
As águas e o fogo que queimei
Nas noites frias e escuras, el Rei!
Está morto ou vivo
Só eu sei!

A realidade é bruta
É fria...irrita!
Mas tu, serpente do amor
Temperatura que faz dor

Tu enrolas, rebolas e sufocas
O apertado de calor
Dente afiado, no agarrado
Pica a pele, sai a gota
Solta a voz, o grito sangra
Não me ouvi, a pensar...
A razão mata!

PP

Rainha Mulher

Desce as escadas
Todo o corpo
Transpira sensação
Nos deixa no lodo

Parecem escadas de paço
Tal rainha suportam
Vai a meio o desfile
Todos meus poros brotam

Só de ver,
Meus olhos fecham
De pensar,
Meu coração rebenta
Tanta luz!
Meu sofrimento
De sonhar,
Quase levanto!

És Princesa no meu reino,
És Rainha do meu pranto
Serei presa fácil no teu leito
Serei capaz de morrer por tanto encanto?

PP

sexta-feira, 21 de março de 2008

Futebol Mentiroso

Em Portugal o futebol é pobre, fraco, feio, defensivo e mentiroso. De facto, nós portugueses gostamos muito de exibicionismos, adoramos desfilar todo o nosso materialismo e, por vezes, esquecemos a realidade que temos da porta de casa para dentro.
No futebol é igual, os dirigentes continuam a enganar os sócios e simpatizantes dos clubes com inícios de época repletos de apresentações de jogadores maravilhosos, mas que ninguém conhece e que nada vêm acrescentar à modalidade, à excepção, de avolumar as carteiras de algumas personagens bem posicionadas nestes círculos de negócios.
Ainda assim, quando todos dizem que, por exemplo, o ultimo derby Sporting vs Benfica (1-1), foi de baixa qualidade, sou da opinião que em função dos jogadores, treinadores e árbitros em campo, o espectáculo teve uma qualidade acima da média. Pena, é que seja tão nivelada por baixo, pois para este jogo ser aceitável, imagine-se a qualidade dos outros jogos a que vamos assistindo.
Não seria mais justo e honesto assumir as carências financeiras existentes, após anos e anos, de verdadeiro saque e, apostar em definitivo na formação de novos valores? É óbvio que não conseguiremos comprar os melhores artistas, mas temos vários exemplos de como eles também nascem aqui no nosso país.
Os portugueses e as portuguesas estão cada vez mais a seguir outros caminhos, a acompanhar outras ligas e a fraca assistência que se regista nos estádios é um processo irreversível. Qualquer dia apenas estarão a presenciar os jogos de futebol aqueles que fazem da modalidade não uma festa, mas um campo de batalha, de vaidades e arruaça. Também, não será isto que cultivam os dirigentes dos nossos clubes? O que seria suposto era formar seres humanos e não somente futebolistas, mas tendo em conta a categoria destes responsáveis formar o que quer que seja é utópico, a não ser no campo da vigarice! Continuo a pensar que o melhor do nosso futebol são os jogadores, o problema é terem de lidar com pessoas de tão baixo nível que os tratam sem o mínimo de dignidade, numa fase das suas vidas tão importante para a sua condição humana.
Não acredito que seja possível construir um futebol melhor no nosso país enquanto estas pessoas estiverem à frente do seu destino. Trata-se de colocar no topo dos interesses futebolisticos, a formação e o crescimento humano através do desporto ao invés de motivações para beneficio próprio sem olhar a meios, contudo, esta atitude não colhe junto da comunidade dirigente portuguesa dada a índole destes parasitas insaciáveis.

Stacey Kent







Fui ao concerto no CCB e cada vez mais recomendo!
Grandes músicos, enorme voz, cool jazz, muito bom!!
Não deixem de ouvir!!!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sophia de Mello Breyner Andresen




1919-2004

Musa

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como espelhos

Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente