quarta-feira, 26 de março de 2008

Não-Sociedade

Estamos nos famosos tempos modernos e chegámos finalmente a um beco sem saída, quem diria?! Somos a única espécie capaz de raciocinar, salvo não muito raras excepções; fomos inteligentes ao ponto de chegar à lua e, estamos agora à beira da ruptura social.
Chamo a tudo isto que gira à nossa volta e nos enrola num turbilhão de maleficências e egoísmos a Não-Sociedade, onde quem se apresenta com veículos de alta cilindrada, roupas e acessórios de marca (cara) é automaticamente reconhecido como grande personalidade, não sei de quê, mesmo que toda essa ostentação advenha de negociatas de saco azul ou tráfico de vários ilícitos.
Ao contrário, quem utiliza a precária (mas cara) rede de transportes públicos ou possui "carros sem peneiras" não passa - aos olhos dos "juízes sociais" - de escumalha e gente pobre. Conheço muita gente deste calibre! Gente que utiliza os atrasados e mal cheirosos comboios, Gente que se arrisca por entre a sujidade e os rios de urina nas estações de metro, Gente que manhã cedo se equilibra nos autocarros à pinha; trabalhadores incansáveis que desesperam pelo final do mês para voltar a respirar o efémero balão de oxigénio.
Estas pessoas e outras que tais, não contam para a Não-Sociedade, ela tem outros exemplos a seguir: ministros caídos do céu, políticos foragidos da lei, riquezas incalculáveis fruto do malabarismo dos impostos, lugares de chefia para os amigos, crimes que só não se comprovam nos tribunais, medidas inovadoras: comprar submarinos com o dinheiro dos hospitais, construir novos aeroportos com o dinheiro das escolas...
Não compreendo esta coisa que aqui decidi chamar de não-sociedade. Porque não respeitamos as palavras que inventámos? A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação amistosa com outros". Societas deriva de socius, que significa "companheiro", ora, companheirismo é tudo o que menos existe à nossa volta, neste ambiente onde reina o individualismo e a lei do salve-se quem puder, será isso ser amigo e companheiro?
Não! Sociedade significa ter a mesma lei para todos, respeitar qualquer um independentemente da raça, da origem, da cor, da idade, da orientação sexual, do género, da condição social, da religião...É possuirmos todos os mesmos direitos, é termos todos as mesmas oportunidades, é preservarmos o nosso planeta e termos consciência que não seremos os últimos a andar por cá. Nem isso nós conseguimos fazer! Mesmo sabendo que os próximos serão os nossos netos e bisnetos. Tenho vergonha desta sociedade de guerrilha que lhes deixo, sinto-me um cobarde pelos recursos e alternativas que não lhes apresento!
Ainda assim, continuo a acreditar talvez utopicamente, nas definições de sociedade que aprendi na escola. É horrível pensar ao nosso lado bem pertinho existem criaturas iguais a nós, feitas da mesma matéria que vivem no limiar da dignidade humana. Temos de fazer alguma coisa para modificar esta não-sociedade que construimos, mas para que isso seja possível meus amigos, está na hora de darmos todos um bocadinho mais de nós. Se calhar, para ser um mais fácil dar sem estar à espera de receber em primeiro lugar, devemos pensar que ainda somos realmente uns privilegiados cheios de sorte, pois no lugar daquele que nos pede uma esmola hoje, bem que podemos estar nós amanhã!

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